Friday, December 08, 2006

Mr.Bojangles (Quase-Ficção)

Um belo sábado, levei minha filha a uma feira de animais de estimação. Quem entrasse e tivesse uma criança com menos de doze anos, ganhava direito a um peixe Beta. Entrei numa fila de umas 500 pessoas só para pegar o peixinho para ela, que insistia constantemente. Depois de ficar umas 3 horas em pé e ainda ter o meu pé pisado por um pai de 200 kilos revoltado com o tamanho do peixe (achou pequeno), consegui o Beta - nada de aquário, nada de comidinha de peixe, nada de manual de instruções: só um peixinho dourado (Dourado já é outra raça, portanto esse era um Beta dourado) dentro de um saco plástico transparente. Olhamos rapidamente a feira e fomos embora - tinha esperado tanto que quase já não tinha mais feira.
Eu sempre gostei de peixes. Mas esse era diferente. De alguma forma, ele parecia comigo - não fisicamente, claro. Ele só ficava ali, parado, dando umas nadadinhas, às vezes eu pegava ele olhando o mundo e a mim através do vidro transparente do pote de maionese - sim, eu o coloquei em um pote de maionese - já que na própria feira não tinha um só stand que vendesse aquários para os tais Beta (comerciantes sensacionais, já que a feira deve ter distribuído uns cinco mil betas e vendido zero aquários). Ao fim do final de semana, mInha filha voltou para a casa da mãe e o peixe ficou na minha. Coloquei ele do lado do monitor do meu computador.
Enquanto eu escrevia ou navegava na internet, lá estava o peixinho olhando para mim. Nadava tranquilamente, parava, me encarava com olhinhos perguntadores, comia um ou outro pedaço de comidinha que boiava no aquário imporvisado. Um dia, coloquei uma música do Bob Dylan, uma das minhas preferidas e o peixinho começou a nadar imediatamente. "Mr. Bojangles, Mr. Bojangles, daaaaaaance" - cantava o fanho Dylan no refrão e dançava o pexinho no ritmo. A música se chamava Mr. Bojangles, e fiquei tão impressionado que coloquei nele o nome da música. Mister Bojangles. Perfeito.
O gosto musical nos aproximou. Logo comecei a ter conversas regulares com o Mr. Bojangles, sobre meus contos, meus problemas com namorada(s), sobre dinheiro, tudo eu conversava com ele. Era uma espécie de Wilson (a bola de vôlei) para o náufrago Tom Hanks. Ele parecia se divertir. Ouvíamos Bob Dylan juntos, conversávamos (eu falava e ele ouvia), até cerveja tomamos juntos (na verdade, eu tomei e ele assistiu). Várias soluções eu encontrei conversando com o Mr. Bojangles.
Aconteceu de eu começar a escrever um conto (muito grande para postar aqui no blog). Bojangles sabia tudo sobre o conto, eu ia escrevendo e contando a quantas andava, novas idéias, tudo. Escrevi de uma vez só, virei a noite toda. E o Mr. Bojangles, lá. Já amanhecendo, anunciei vitorioso: Terminei! Quando olhei ao lado do monitor, meu grande amigo e companheiro de escrita não estava no aquário. A água parada, límpíssima. Até os cocôs do Mr. Bojangles haviam sumido. Eu não acreditei no que via. Aliás, no que não via.
Teria Bojangles se tornado um peixe-pássaro e saído voando? Estaria o aquário vazando e ele teria descido pelo vazamento? Procurei um furo, mas não havia água em volta. Pera aí, havia pingos dágua se estendendo em uma linha quase reta por toda a mesa, que terminavam em direção à parte de trás dela. Afastei a mesa e fui olhar, estranhado; lá jazia Mr. Bojangles, imóvel. Ainda peguei ele desesperadamente e o joguei de volta na água, mas ele desceu debilmente até o fundo e boiou de volta à superfície de cabeça pra baixo. Pobre Mr. B. Mesmo tendo se matado, mesmo tento pulado para fora do aquário por livre e espontânea vontade, se tornando um suicida, merecia um funeral justo. Coloquei-o em uma caixa de fósforos e mandei descarga abaixo, ao som da música: "Mr. Bojangles, daaaaaaaance", torcendo para a privada não entupir. Não entupiu.
Às vezes me pergunto os motivos do Mr. Bojangles ter cometido tal ato. Nos divertíamos, conversávamos bastante, acho que ele teria me dado alguma indicação de depressão. Cheguei a conclusão de que ele não gostara do meu conto.
P.S. Comprei o Mr. Bojangles 2. Ele ainda não se matou, me observa e ouve meus comentários atentamente enquanto escrevo isso.

Tuesday, December 05, 2006

Ler ou Não Ver? Eis a Questão

Vêem, os olhos, (o) que querem. Ou (o) que podem.
Orbitam a órbita lógica do globo ocular, no osso orbital.
Óbito tal, qual? O quanto se faz normal com anoréxica + Xenical?
Fluoxetina não corta (a) Caloria = Kcal, anulada na real by ideal de beleza normal.
Normal?
Nos olhos de quem vê está a beleza de quem bela não se vê.

"Ler a bula é o melhor remédio" (Lúcia Rosas)

Monday, December 04, 2006

E na Parada de Ônibus.. (Ficção)

Quem é aquele menino olhando para mim do outro lado da rua? É bonito, hein?
Ai meu Deus, ele ainda tá olhando. Deve ter me achando gorda, já que eu tô enorme mesmo. A cara dele é de riso, ele tá sorrindo? Não, eu conheço aquele olhar, é de ironia. Ele tá achando algo engraçado em mim. Dessa distância ele só consegue ver uma bola mesmo. Ele tá atravessando a rua, a cara de cínico tá aumentando. Cadê esse ônibus que não chega? Será que ele ainda tá olhando pra mim? Está. Quem é ele afinal, acho que conheço de algum lugar. Bom, se ele me conhecer, que venha falar comigo. Mas ele tá me encarando mesmo, agora. Será que é o meu cabelo? Não, acabei de pintar de vermelho, tá lindo. Ou ficou um pedaço de alface no meu aparelho? Passei a língua no aparelho, não pareceu sujo. O que ele tá olhando tanto com essa cara irônica? Ah, vou parar de olhar para ele, tá tirando onda com a minha cara, eu não tô com paciência pra isso não. Nem conheço ele. Será que é a minha roupa? Droga, ele continua olhando, que cara de pau! Vai passar por mim agora, vou parar de olhar para ele. Ônibus desgraçado que não chega. Ele passa por mim e diz:
_Você é linda, viu? Pela cara que você me fez, acho que não quer me conhecer não. Mas, de qualquer maneira, tá aqui o meu telefone - e me entregou um papelzinho.
Peguei e disse que estava tudo bem. Sorri pra mim mesma.