Tuesday, August 28, 2007

O Clichê - Parte II (Ficção)

No último capítulo, nosso (anti?) herói saíra determinado a terminar seu relacionamento com a namorada. Após traí-la, viu que não tinha mais lógica em continuar namorando, por ter se apaixonado por outra, e essa outra em especial, ser a melhor amiga da sua atual namorada. Enquanto isso, a amiga traidora (chamada aqui de "Ela") ficara seminua na cama dele, enrolada numa toalha, em um dilema ainda pior: contar ou não a verdade, expondo assim a amiga a um sofrimento duplo ou então, viver uma mentira Será o desfecho desse clichê também um clichê? Não percam o fim dessa comum história.


Ele entrou no carro cabisbaixo, sem comprimentar o porteiro. Um pouco por desatenção, também um pouco por vergonha: o porteiro conhecia sua namorada, e o tinha visto subir com uma estranha algumas horas antes. Girou a ignição e ficou ali ouvindo o ronco do motor, encarando o volante, esperando um milagre. Como não teve milagre algum e nada mudou, acelerou rumo ao destino.
Ela não conseguia parar de pensar como a cama era confortável, ao passo que não perdia o frio na barriga que só aumentava. Pegou o controle da televisão, ligou-a, e zapeou todos os 68 canais da TV a cabo, até que voltou ao primeiro. E continuou assim por mais alguns minutos. Largou o controle e olhou sua roupa jogada na cabeceira, enroscada com a roupa dele, e lembrou-se de uma música do Chico Buarque que relatava algo parecido. O nome da música é Eu Te Amo.
Tentou colocar os sentimentos em ordem, se perguntar o que sentia pra tentar descobrir qual era o certo a fazer. Notou que não queria perder a amiga, notou que não queria perder o amante; logo, notou que não adiantava nada olhar para os próprios sentimentos. E aí, buscou a razão. E descobriu que não tinha razão nenhuma nessa história toda.
Ele entrou no restaurante cauteloso, pedindo licença aos clientes parados na entrada e viu a namorada de longe, sentada numa mesa do fundo. Aqui e ali pessoas conversavam alegremente, mas o som era mudo para ele. Em um instante tudo se focava nela, que sorriu amavelmente, aparentemente de bom humor, como se ele não tivesse "esquecido" o compromisso. E realmente assim ela se portou. Ele a admirou mais ainda por isso.
Para ele, o estranho na traição e na nova paixão era justamente isso: amava, também, a namorada. Não tinha queixas, não tinha reclamações, o sexo era formidável, o humor dela idem. Nada, realmente nada, desabonava essa mulher. E mesmo assim, ele a tinha traído, e mais injustamente, com sua melhor amiga. Sim ele amava a namorada. E sim, ele amava a amiga da namorada. Não tinha solução. Escolhia uma ou outra, e ainda por cima, teria que contar com o perdão da primeira ou ainda a retribuição da segunda.
Ela, ainda deitada na cama e nua, começou a pensar na amiga. Como a amava. Tinham sido companheiras desde a faculdade, confidentes, irmãs. Uma já tinha ajudado a outra em todo tipo de situação, desde amorosas até financeiras, inclusive tinham morado juntas vários anos, sem uma briga sequer. Gostava de bricar dizendo que, se fosse um homem, casaria com a amiga. O remorso pesou mais ainda e ela se perguntou quantas vezes a amiga teria se deitado ali, onde ela agora estava. Quantos orgasmos, quais as posições. E isso, estranhamente, a excitou. Pensar nos dois deixou-a desconcertada,mas de uma maneira agradável; tal pensamento nunca havia passado sequer por sua cabeça.
Ele disse à namorada que precisavam conversar. Ela, lógico, notou em suas feições o fim. Procurava no rosto dele o motivo, que ele disse à queima roupa: Sua melhor amiga. O choque tomou conta da namorada, que ficou fria e incrédula. Ele, explicava, falando rápido, que amava as duas, que não sabia o que fazer. Ele contou que já tinha pensado e que a única opção era ser honesto e dizer a verdade. Mesmo que isso significasse perdê-las. A namorada perguntou pela amiga, ele disse que deixara ela em seu apartamento. Pegou o celular e ligou para ela.
"Fulana, estás ainda no apartamento dele?"
A traidora, vendo que tudo já tinha ido para o beleléu, deu-se por vencida
"Estou"
Pois bem, estamos indo aí, ele e eu, para termos uma conversa, os três.
E assim foi.

Lá chegando, os dois traídores tinham apreensão no rosto. A calma serena da namorada os afetava mais ainda, pois não podiam ler em sua face seus pensamentos. E então a namorada falou, objetiva:
"Bom, o negócio é o seguinte: Vocês me traíram e isso foi muito desleal. De uma vez, vou perder a amiga e o namorado. Amiga, eu te amo, sempre amei e você sabe disso, e o amo também, e ele sempre soube. Quero saber uma coisa: Você o ama?
Prontamente, ela respondeu que sim.
"E a mim?" - continuou a namorada - "e a mim, você ama?"
"Claro que sim, amiga. Como uma irmã."
"E se não fosse como uma irmã, você amaria?"
E essa pergunta acertou os dois traidores como um soco no estômago. Ela estava realmente propondo o que eles entenderam?
A traidora tinha acabado de descobrir, em seus pensamentos, que sim, que se excitava com a amiga e o namorado.
O traidor era homem e, ainda por cima amando as duas, adorou a idéia.
Por fim, a namorada traída, disse:
"Não quero perder as duas pessoas que mais amo no mundo. Ao contrário, acho que assim nos amaremos muito mais".
Para os três parecia a decisão perfeita. Ninguém perderia niguém.
E assim foi. Ali, na mesma hora, deitaram cautelosamente os três. O primeiro beijo triplo foi estranho, mas muito caloroso. O primeiro beijo das duas, separadas dele, foi uma coisa tão óbvia para elas que não sabiam como não tinha acontecido antes. Todos tiraram as roupas e se amaram.
E como em todo clichê, se casaram (os três) e viveram felizes para sempre.

P.S.1 - Gostaram? :B