Saturday, August 23, 2008

Mais Arte (Ficção)

Enconstados de soslaio numa parede, estamos sozinhos em meio a uma multidão que vai e vem. Não sei como a conversa começa. Você me pergunta sobre algo marcante em você, como se fosse um defeito. Pergunto, ironicamente, se queres sinceridade.

"Sim, ceridade".

Seus olhos me olham no olho. Meus olhos te olham na boca. Ela forma sons que ecoam palavras sobre coisas da vida, do seu dia-a-dia, na sua noite-a-noite. Eu não pergunto nada, apenas comento suas afirmações. Noto nossas afinidades, comento elas também.

Pequenas aflições você me confidencia. Dessas aflições, eu compartilho. Cada um na sua maneira, claro. Seus dias não querem terminar, minhas noites também não. Precisamos relaxar. Cada um na sua maneira, claro.

Mas o que você me perguntou, querida, não é defeito. Já pequei pelo excesso, hoje peco pela ausência. Vice-versa, é o seu caso. Precisamos de equilíbrio, precisamos nos equilibrar. Um pouco de você em mim, um pouco de mim em você. Seria perfeito. Mas o mundo não é perfeito.

Uma das pessoas que vai e vem nos interrompe: ela precisa mais de você do que você precisa dos meus olhos/ouvidos. Você tem que ir. E vai.

O que você precisa, querida, é mais arte na sua vida.