Saturday, April 07, 2007

Mentiras que as Mulheres Contam (Crônica/Ficção)

O ilustre Luis Fernando Veríssimo vai me desculpar (por favor, Mestre!), mas surrupiei descaradamente o título de uma de suas mais famosas obras e a adaptei para a crônica (texto? ensaio? minhas letrinhas?) seguinte. Não quero ser machista nem nada, apenas expor causos que às vezes acontecem na vida de qualquer homem que se disponha a convidar uma mulher para sair. Muitas vezes, essas aproximações não são bem sucedidas, por diversos motivos que não vêm ao caso. O que vem ao caso é como algumas mulheres conseguem se desfazer da proposta de maneira hábil, fazendo com as palavras mais ou menos o que um samurai faz com sua espada: cortar. E cortar da maneira mais rápida e indolor possível.

Existe algumas saídas para um convite que são tidas como "padrão" por elas, como no exemplo seguinte:

Ele: _Vamos sair no sábado à noite?
Ela: _Pode ser...
A resposta é meio vaga, então normalmente é seguido pelo reforço:
_Eu te ligo.
Que normalmente nunca é seguido por um telefonema.
Às vezes o cara pode sentir a irresistível vontade de provocar a mulher, dizendo:
_Nem me ligou, hein?
Ela dispara a desculpa das desculpas, perfeira para essa situação:
_Fui assaltada, roubaram meu telefone e perdi o número de todo o mundo.
Ouviu bem o que ela disse? De todo o mundo. De todo o planeta terra, inclusive o seu, mané. E nem pense em dar denovo. Não adiantaria absolutamente nada.

Existe também um enorme leque de respostas muito convenientes com cada situação. Um bom exemplo é nas vésperas de um feriado:
Ele: _O que você vai fazer nesse feriado?
Ela: _Não tenho plano nenhum.
Ele: _Vamos no cinema?
Ela: _Humm..
O "Humm" é para dar a impressão que ela está analizando o convite, mas na verdade ela está inventando a desculpa. Novamente:
Ela: _Humm... Estou esperando a resposta de umas amigas pra viajar pra praia de Jaguatitica. Se não for, "eu te ligo".
Notem que em um momento ela não tinha planos, provavelmente por não ter previsto o indesejado convite. Quando viu, era tarde demais e se saiu com uma razoável meia-verdade, passível de explicação caso o "convidadeiro" proteste. E se ele protestar realmente, ela vai falar tanto no ouvido dele, explicando tim-tim por tim-tim de tudo relacionado a viagem (imaginária, assim como a praia), que o cara vai se dar por feliz com o fora - e com o blá blá blá, ela ainda se vê livre de futuros convites indesejados desse cidadão.
E notem ainda que está lá o "eu te ligo" denovo. Esse "eu te ligo" é fatal. Ao ouví-lo, pode dar o assunto por encerrado. Alguns caras tentam, sem sucesso, argumentar que ela não tem o telefone dele. Não adianta nada. Normalmente, a essa altura ela já está prestando atenção a outra coisa, que não é o que o cara está dizendo. O argumento se perde no ar, feito fumaça. Em última hipótese, ela pega o celular demonstrando que vai gravar o número na agenda. Enquanto o esperançoso mané (se acredita que ela vai ligar, é mané) fala o número, ela está checando se tem mensagens ou ligações novas. Anotado?

Tem também uma resposta muito usada pelas mulheres, que fica sem argumento algum da parte masculina. É o forte:
_Estou me sentindo mal.
Ou a variante:
_Estou doente.
Ou ainda a assustadora:
_Estou com TPM, porra!
Estes são normalmente usados para desmarcar encontros que ela previamente aceitou por não encontrar a desculpa certa na hora certa. Então, provavelmente, se consulta com algumas amigas, que já usaram o recurso com indiscutível sucesso, e então aproveitam para testá-lo. Sempre dá certo com elas também, e assim, passam adiante o conhecimento a novas amigas sem timing criativo.

Existem ainda casos mais arriscados em eficácia, por que deixam o convite em aberto (se o cara for muito chato, ele insistirá até ela usar uma das táticas já relacionadas acima). Esse recurso consiste na mulher, habilmente, conduzir a conversa para outro patamar, mudando de assunto. Existem duas maneiras conhecidas:
Uma mais sutil:
Ele: Quer pegar um cinema?
Ela: Qual filme?
Ele: O Último Rei da Escócia.
Ela: Esse filme existe mesmo?
Ele: Claro, é um filme sobre sobre o ditador Idi Amin, de um país africano, e que ganhou o Oscar de melhor ator...
Nessa hora, o convite já foi para os caralheos há muito tempo. Ou ela sai de perto do cara, ou começa um assunto pegando carona no que ele mesmo iniciou sem se dar conta da armadilha. Nesse caso específico, poderia ser sobre a fome na África, ou como os países ricos exploram os pobres, et cetera, et cetera.
E a outra maneira, essa mais brusca, de sair do convite na mesma tática, normalmente é usada em casos do cara ser um tremendo de um mala:
Mala: _Quer pegar um cineminha, gatinha?
Ela atira, sem dó do mala, e ainda com voz de choro:
_Pô, ficou sabendo que o Marcão morreu?
Mala embasbacado, boca aberta e olhos arregalados, cara de quem levou um sacode:
_É mermo?
Desarmado, o mala não sabe mais o que dizer, só tinha decorado a primeira frase. O convite é sufocado pelo silêncio do próprio mala, que procura sem sucesso um pensamento para rebater a notícia bombástica. Não é bombástica para ele, que nem sabe quem é Marcão (e que provavelmente nem existe). É bombástica para o convite e para o raciocínio neanderthal do "sem alça". Como se pode refazer um convite nessas condições? Morte súbita para o convite, só resta ir tentar com outra.

Como podem ver, as mulheres (sempre elas!) merecem o aplauso masculino. São hábeis, muitas vezes colocadas em situações constrangedoras pelos homens que as cercam e saem disso de uma maneira tangencial, sempre diplomática, digna das melhores embaixadoras (ou será "embaixatrizes"?) do mundo.
Viva às mulheres, elas merecem!!!

P.S. Os acontecimentos retratados aqui são meramente ilustrativos; Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência et cetera.
P.S. 1: Esse texto foi originalmente escrito no Dia Mundial da Mulher, mas eu tinha perdido e achei hoje de manhã. Claro que atualizei-o e agora, podem rir à vontade (pretensioso, não?)
P.S. 2: Por favor, não tenham o bom humor de levar isso a sério, nem considero "mentiras" , foi só uma brincadeira, sem ofensas. (O Veríssimo não precisa se explicar, mas eu sim.)