Thursday, April 05, 2012

Diário de bordo (uma ficção científica, quem diria).

Trafego por diversos universos sem cerimônia, mas com muito respeito. Mundos com suas órbitas particulares se aproximam; diferente de Melancholia e Terra, não colidem; coexistem. Interessantes habitantes aparecem mais ou menos, com importância diretamente proporcional ao tempo de permanência. Toda a cortesia entre os mundos é eventualmente entrecortada por um ou outro (raro) bárbaro. Destes minha nave mantém distância – graças à Nébula Maior por isso.

Piratas de energia são os problemas mais comumente enfrentados. A carga positiva que transporto é alvo constante de tentativas de seqüestro, mas sem sucesso, tranqüilizo. Nota para registro: são personas intrigantes tais saqueadores. Confiam tanto na própria sombra quanto na própria tripulação = zero. Hasteiam suas bandeiras no mais alto mastro para impô-las aos (sub)mundos, provável única forma de auto-destaque. O máximo que conseguem são tripulações reféns e diminuídas, tão logo dissimuladas; eventualmente eclodem motins.

Já minha tripulação, os chamo de Iguais. Não possuímos patentes, nos tratamos pelo mesmo posto. Uns poucos escolhidos, de universos paralelos, e diferentes, mas nenhum melhor ou pior que o outro. Os motivos para estarem a bordo são afinidade, competência e confiança. Cada um possui um departamento, são os melhores no que fazem. Protegem minha retaguarda tanto quanto protejo as suas. A solidão do espaço infinito se extingue tão logo suas presenças são requeridas. Os percalços encontrados por uma nave dessa magnitude se mostram constantes, embora facilmente solucionados quando se pode contar com parceiros dessa competência. Gratidão eterna à minha equipe.

Quanto à solidão no dead space, esta só pode se constatar inevitável. Já afirmada em registros de diários anteriores, o sentimento inerente só pode ser diluído em duas situações: pela já bem falada tripulação e/ou por presenças afetuosas das habitantes de maior importância dos tais universos pelos quais trafego. Tem se mostrado difícil – mas não impossível – tal afeição. Desde que a última integrante deste seleto grupo aportou e abandonou a nave, escolhendo um desses universos adversos - não sua estrela natal, registro. Levou consigo uma parcela da carga positiva que nossa embarcação espacial carrega. Embora tão seguro, o carregamento está sujeito à subtrações, racionalmente remediáveis a médio prazo.

Desde então, esses universos tem me presenteado com companhias importantíssimas, fugazes, intensas e felizes, às quais posso creditar novos observações, vivências extraordinárias e um superávit nos níveis de positividade, adicionada e incorporada à carga transportada pela nossa embarcação. Esse diário se obriga a precisão, portanto deve assinalar que tais mantimentos ainda se encontram subtraídos, se comparados ao acúmulo original de positividade nativa. Porém, se torna imprescindível a referência ao gráfico anexo; este registra uma forte tendência de alta no que diz respeito ao precioso ítem positivo que torna possível para essa nave mãe o simples ato de decolar.

Ademais, eventos que não merecem registro.

De: Controle da Nave
Para: Lar Doce Lar

Over.