Saturday, December 02, 2006

O Presente (ou Desculpa Para Não Dar Presentes, você escolhe o título)

O presente é um tremendo de um presente - o passado já se foi, futuro pode não ser um bom presente. Quando ganhamos algo de quem nós gostamos, é como se isso sempre nos pertencesse. Pode ser uma caixa de chocolates - que acaba no mesmo dia, a não ser que dê uma dor de barriga - uma flor, um carro, qualquer coisa (claro que um carrão ou uma jóia é muito mais 'presença'). Mas eu acredito que o melhor presente são sentimentos. Raciocine comigo.
Um sentimento não tem preço. Claro que isso não é desculpa, pois algo que não tem preço pode não valer nada, mas não é esse o caso. Estou falando de um BOM sentimento; Um sentimento nunca vem sozinho - quando estamos apaixonados, por exemplo (exemplo!!!!!!), vem muitos outros sentimentos: alegria, prazer, tesão, compreensão, e quem sabe até felicidade e esperança. Ou a amizade, que trás inúmeros sentimentos, como companheirismo, camaradagem, ajuda, alegria, risos e sorrisos, etc, etc... Por essa lógica, um sentimento como presente são vários presentes, já que são vários sentimentos;
Um sentimento como presente pode ser infinito. Claro que sentimentos acabam, mas fica o aprendizado - esse sim é eterno.
Um sentimento (estou ficando repetitivo) muda tudo, muda mais do que determinadas coisas materiais. Por exemplo: camisas feias que não cabem, ou cd's de música brega, ou qualquer outra coisa que se queira trocar, porque quem comprou seguiu o próprio gosto e ainda disse: "Ah, acho isso a sua cara". Ao menos, nesse caso, veio o sentimento da lembrança. E é da lembrança que vem (tradicionalmente) o presente, fazendo o ciclo lembrança = presente, e sendo a lembrança um sentimento, logo: sentimento = presente. Entendeu?
Voltando ao início, e seguindo a lógica de que sentimentos acabam, o que sentimos está no nosso presente, porque se não sentimos, já é passado. Logo, se você está no meu presente é porque eu te sinto e se eu te sinto, você sempre estará no meu presente (mesmo que não nos vejamos sempre), e esse é o melhor presente que eu posso te dar (liso?!). E, sendo assim, o presente é o meu melhor presente.

Era um pouco mais de informação do que eu precisava... (Ficção)

(Antes de ler isso, sugiro a leitura de: http://ficcaonaocientifica.blogspot.com/2006/11/fico-no-cientfica.html)

Abro meus olhos com o sol no meu rosto. Onde é que estou? Que horas são? De quem são esses cabelos ruivos e essas costas femininas do meu lado? As respostas surgem mais simples que as perguntas: Estou em casa, são 5:49 da manhã e os cabelos ruivos pertencem a Ela. Pensando bem, essa última resposta não é tão simples. "Quem é ela", me toquei de que não sabia. Sei seu nome, claro, estamos juntos fazem alguns meses, e eu não faço idéia de quem ela é. Inteligente, sagaz? Expressiva, espontânea? Talvez. Bonita? Sem dúvida. Eu sei que, outrora, tirei essas e outras conclusões a respeito dela, mas nada disso me parece plausível agora. Meu julgamento na hora em questão não é mais tão confiável.
Não que ela e eu não conversássemos; ao contrário, conversávamos até demais. O timeco de futebol para o qual ela torce eu me lembro; que odeia calcinha fio-dental ela me disse. Adora a saga "Jogos Mortais", sabe como cada personagem morre e a sequência certa. Adora McDonalds, vomita sushi. Ganha mais de mesada do que eu de salário, dorme tarde e até tarde (igual a mim), tem medo de fantasmas (diferente de mim). Já beijou mais do que eu, já fiz mais sexo do que ela. Meia dúzia de namorados anteriores a mim - e nem namorado sei se sou. Nos apaixonamos por um número igual de pessoas. Não sei se eu conto como paixão na lista dela - ela tem uma lista, sim - e nem se a própria conta como paixão para mim. Só sei que agora está deitada do meu lado, completamente nua e desconhecida - o que é uma contradição porquê, tecnicamente, se está nua do meu lado, eu deveria saber algo sobre ela.
Na noite passada, resolvemos ter uma - na verdade, a primeira - conversa séria de verdade. O que estávamos fazendo durante aquele tempo juntos, o que realmente tínhamos feito nas nossas vidas. No nosso passado, quem foram os personagens principais, quem foram os coadjuvantes. O que esperavámos do resto dos nossos dias. O que tínhamos aprendido, quem tínhamos guardado, quem tínhamos desprezado. O que existia em comum entre nós, o que não existia. Experiências sexuais, fantasias secretas. Quem nos tornaríamos, se uma pessoa juntos ou duas pessoas separados. Pratos limpos, roupas lavadas, cartas na mesa, jogamos tudo. Jogamos tudo para o alto.
E assim foi. Acabamos por nos conhecer demais, talvez mais do que era necessário - ou talvez mais do que realmente quiséssemos. Não valeu a conversa. "Quebrou o encanto", diria um velho sábio que conheci. Agora eu estou aqui deitado, cansado - por ter acordado na hora em que normalmente durmo - querendo ir embora da minha própria casa. Não quero lidar com o fim. Mas não iria adiantar de nada, eu tenho que dizer ou responder o "adeus". Sei que ela se sente do mesmo jeito, notei quando fizemos amor (?), como se fosse a última vez. Tenho certeza que foi.
Me levanto trôpego e fecho as cortinas que, abertas, me deixavam vulneráveis ao sol. Ela não parece se importar, dorme profundamente. Deito de volta para dormir, a fim de adiantar o relógio em direção ao inevitável "adeus" - ao invés do costumaz "bom dia". Quem será o primeiro a dizer? Quem terá que responder? Ela, eu?

Friday, December 01, 2006

Minhas Letrinhas


Eu ia postar uma ficçãozinha aqui, que eu fiz anteontem à noite, mas uma conversa me fez refletir mais sobre a minha escrita (que alguns de vocês tecnicamente ainda não viram). Uma garota que eu conheço, ao comentar sobre o meu mais novo blog (esse) me disse a seguinte frase: "você escreve bem, deve mostrar o seu trabalho" (ou algo parecido, mas a palavra trabalho estava lá, imaculada). Odeio que se refiram a qualquer coisa que eu faça de graça usando essa palavra amaldiçoada. Amaldiçoada pelo dinheiro.
Você deve estar pensando que eu vou começar a fazer um discurso contra o capitalismo, ou contra "vender minha arte" - arte eu também não gosto de usar como definição, já que não tenho o talento necessário para ser um artista. Não é nada disso. É pura e simplesmente pelo fato de não ser nenhum trabalho. Não ganho dinheiro, o que é mais importante, faço por prazer, faço porque gosto. Citando o texto anterior, faço porque sou perturbado.
Então, diante da minha velada indignação pela forma como ela chamou genericamente o que eu escrevo, me perguntou: "E como é para chamar?" Daí ela começou: "seus textos? suas crônicas? suas ficções não-científicas? seus contos?"
Eu não sabia. Cada coisa que escrevo pode ser uma dessas coisas, pode ser todas ou pode ser nenhuma. Nada era completo o suficiente. Tudo que eu fazia era colocar letrinhas na tela do computador. Letrinhas. Minhas.
E assim ficou. Minhas letrinhas. Eu não escrevo crônicas, eu não escrevo ficções (científicas ou não), não escrevo trabalhos nem faço arte. Nada contra ambos. Escrevo minhas letrinhas

"É preciso ser um verdadeiro artista para viver da própria arte" (Anônimo)

P.S. A ficçãozinha fica pra amanhã.

Ficção Não-Científica


Eu não sei escrever. Isso é um fato. Às vezes, num relance, tenho boas (?) idéias, mas não sei passá-las para o papel (tela do computador). Pedro Juan Gutierréz disse que de nada vale uma arte que não seja perturbada. Escrevo por isso. Sou perturbado.
Perturbado pelas críticas, pelo que já escrevi no passado. Coisas que eu acho invariavelmente ruins. Acho que tenho que fazer o curso de Letras na universidade, ou ler mais coisas que eu considero chatas e que consideram geniais. Sinceramente não me importa muito. Quando escrevo alguma coisa, aquilo fica daquele jeito. Dou uma revisada gramatical, pego o "Pai dos Burros" para checar uma ou outra palavra, mas em geral, fica como está.
Li uma vez um livro sobre "como escrever best sellers" e a primeira dica era: "Quando terminar de escrever, reescreva tudo denovo". Foi nessa hora que eu percebi que não sabia escrever - pelo menos não sabia escrever best-sellers. Uma das críticas que eu já recebi pelo menos 10 vezes de pessoas que me conhecem muito bem foi: "Você escreve como fala". Fiquei muito triste e muito feliz ao mesmo tempo. Muito triste porque eu não sei fugir da minha linguagem usual, muito feliz por que tenho um estilo próprio, reconhecível.
Admito que isso me assusta: pensarem que a ficção que eu escrevo me descreve. Quando descobrirem que não me descreve, me chamarão de mentiroso. Seria como "Papai Noel não existe": o °F não existe! Deve ser por isso que escrevem "Isso é uma obra de ficção, qualquer personagem ou fato existente na vida real é mera coincidência". Devem ter medo de serem confundidos com o vilão da estória. Ou pode ter alguma lei que, interpretada de maneira (in)conveniente, permita o escritor ser processado por algo que ele escreveu. Não posso falar dos (pelos) outros escritores: eu não maqueio a realidade na minha ficção. Apenas escrevo.
Ficção. Não-científica.
"Um escritor é alguém congenitamente incapaz de dizer a verdade. Por isso, o que ele escreve se chama ficção" (William Faulkner)