Saturday, December 02, 2006

Era um pouco mais de informação do que eu precisava... (Ficção)

(Antes de ler isso, sugiro a leitura de: http://ficcaonaocientifica.blogspot.com/2006/11/fico-no-cientfica.html)

Abro meus olhos com o sol no meu rosto. Onde é que estou? Que horas são? De quem são esses cabelos ruivos e essas costas femininas do meu lado? As respostas surgem mais simples que as perguntas: Estou em casa, são 5:49 da manhã e os cabelos ruivos pertencem a Ela. Pensando bem, essa última resposta não é tão simples. "Quem é ela", me toquei de que não sabia. Sei seu nome, claro, estamos juntos fazem alguns meses, e eu não faço idéia de quem ela é. Inteligente, sagaz? Expressiva, espontânea? Talvez. Bonita? Sem dúvida. Eu sei que, outrora, tirei essas e outras conclusões a respeito dela, mas nada disso me parece plausível agora. Meu julgamento na hora em questão não é mais tão confiável.
Não que ela e eu não conversássemos; ao contrário, conversávamos até demais. O timeco de futebol para o qual ela torce eu me lembro; que odeia calcinha fio-dental ela me disse. Adora a saga "Jogos Mortais", sabe como cada personagem morre e a sequência certa. Adora McDonalds, vomita sushi. Ganha mais de mesada do que eu de salário, dorme tarde e até tarde (igual a mim), tem medo de fantasmas (diferente de mim). Já beijou mais do que eu, já fiz mais sexo do que ela. Meia dúzia de namorados anteriores a mim - e nem namorado sei se sou. Nos apaixonamos por um número igual de pessoas. Não sei se eu conto como paixão na lista dela - ela tem uma lista, sim - e nem se a própria conta como paixão para mim. Só sei que agora está deitada do meu lado, completamente nua e desconhecida - o que é uma contradição porquê, tecnicamente, se está nua do meu lado, eu deveria saber algo sobre ela.
Na noite passada, resolvemos ter uma - na verdade, a primeira - conversa séria de verdade. O que estávamos fazendo durante aquele tempo juntos, o que realmente tínhamos feito nas nossas vidas. No nosso passado, quem foram os personagens principais, quem foram os coadjuvantes. O que esperavámos do resto dos nossos dias. O que tínhamos aprendido, quem tínhamos guardado, quem tínhamos desprezado. O que existia em comum entre nós, o que não existia. Experiências sexuais, fantasias secretas. Quem nos tornaríamos, se uma pessoa juntos ou duas pessoas separados. Pratos limpos, roupas lavadas, cartas na mesa, jogamos tudo. Jogamos tudo para o alto.
E assim foi. Acabamos por nos conhecer demais, talvez mais do que era necessário - ou talvez mais do que realmente quiséssemos. Não valeu a conversa. "Quebrou o encanto", diria um velho sábio que conheci. Agora eu estou aqui deitado, cansado - por ter acordado na hora em que normalmente durmo - querendo ir embora da minha própria casa. Não quero lidar com o fim. Mas não iria adiantar de nada, eu tenho que dizer ou responder o "adeus". Sei que ela se sente do mesmo jeito, notei quando fizemos amor (?), como se fosse a última vez. Tenho certeza que foi.
Me levanto trôpego e fecho as cortinas que, abertas, me deixavam vulneráveis ao sol. Ela não parece se importar, dorme profundamente. Deito de volta para dormir, a fim de adiantar o relógio em direção ao inevitável "adeus" - ao invés do costumaz "bom dia". Quem será o primeiro a dizer? Quem terá que responder? Ela, eu?

6 comments:

Anonymous said...

Prezado Fábio,

Gostei muito do seu conto (crônica), o único problema é que eu não li nada.

Alexandre Martins

F/X said...

Não é uma crônica, Alexandre, e não tinha nada pra ler mesmo. vlw

Anonymous said...

Como é que uma pessoa gosta do que não vê? Do que não lê? Eu hein...
Muito bem escrito, seja lá o que for isso (crônica, conto, ficção ou não). Eu simplesmente me senti vendo a cena. Amo ler livros que me façam sentir assim, é um filme que se passa na cabeça. E, sinceramente, prefiro isso à cinema.

Anonymous said...

Talvez tivesse sido melhor terem mantido guardados determinados fatos de suas vidas (personagens), afinal de contas, uma das coisas que torna uma relação interessante é o ''conhecer'', descobrir diariamente um pouco mais sobre a outra pessoa sem que seja necessário entregar suas vidas como um livro aberto ou uma auto biografia.

Raíssa

Anonymous said...

Um tanto vago para mim, esse texto... Beijo

Anonymous said...

Prezado Fábio,

Parece que a publicação do meu comentário sarcástico causou comoção de outros comentaristas. Daí você vê o quanto eu fui útil. Meu comentário estimulou outros (positivos). Na realidade eu havia lido seu conto (fui corrigido)é que eu prefiro perder o amigo para não perder a piada (mesmo que sem graça). Continue escrevendo. James Elroy é o limite.

Alexandre Martins